quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O suicida da sociedade

Estava andando na livraria do Unibanco Artplex (adoro!) e depois de levar horas para escolher 4 dentre os mil "Cadernos de Teatro" que queria levar, me deparei com uma pequena preciosidade. Artaud falando sobre Van Gogh! Fiquei com o livro na mão, duvidei.... Não comprei porque tive que escolher entre ele e os cadernos, e como ando prcisando estudar... mas com certeza será minha próxima aquisição. O livrinho é mesmo mágico com uma encadernação linda e palavras lúcidas sobre o que pra mim é um dos maiores gênios da arte em geral! Não resisti e li duas páginas que gravei no meu celular e, agora, transcrevo. Como gravei, não garanto a pontuação, apesar de ter tentado fotografar visualmente o máximo que pude.

-- E então, o que acham da visâo de Artaud? Divirtam-se:

"Van Gogh não morreu por um estado de delírio próprio e sim por ter servido corporalmente de campo a um problema em torno do qual desde suas origens se debate o espírito iníquo desta humanidade, que é da predominância da carne sobre o espírito ou do corpo sobre a carne, ou do espírito sobre um e outro.

E onde fica neste delírio, o lugar do eu humano? van Gogh buscou o seu durante toda a vida com uma energia e uma determinação estranhas. E ele não se suicidou num gesto de loucura, no transe de não consegui-lo mas, pelo contrário, acabara de consegui-lo e de descobrir o que ele era e quem ele era. Quando a consciência geral da sociedade para puni-lo por se ter desvencilhado dela, o suicidou.

E isso se passou com Van Gogh como de hábito se passa em uma suruba, uma missa, uma absolvição. ou tal ou qual de passa num rito de consagração, de possessão, de sucubação ou de incubação. Ela se introduziu então em seu corpo, essa sociedade

absolvida
consagrada
santificada
e possessa

apagou nele a consciência sobrenatural que acabara de conquistar. E, como uma inundação de corvos negros nas fibras de sua árvore interna, o submergiu no último mergulho, retmando-lhe o lugar, o matou. Porque é da lógica anatômica do homem moderno nunca ter podido nem pensado viver senão possesso. "

ANTONIN ARTAUD - Van Gogh, o suicida da sociedade - Tradução Ferreira Gullar,
Ed. José Olympio

Nenhum comentário: