segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Alice decide respirar


Alice estava estressada. Por não fazer absolutamente nada. O ócio pode ser tão aflitivo quanto a sobrecarga.
Alice estava à toa.
Ao léu.
De pernas para o ar.
E olhos opacos.
Enfim... Primeiro ela leu os livros que tinha. Então passou horas no computador. Ouviu todo seu repertório músical. Decorou a programação da tv. Sentiu falta de ar.

E enjoou da própria vida.

Cansada desse eterno descansar, fechou os olhos e entrou na toca do coelho atrás de uma vida diferente, de um novo ar.
"Nada melhor do que poder se afastar, que seja por 5 minutos, para respirar..." pensou ela.
E lá se foi, disposta a viver outra vida por algum tempo.

Caiu num lugar muito acolhedor.
Com cheiro de bolo e cafuné!
Em vez de cartas de baralho, dessa vez encontrou pecinhas de Scrabble.
Em vez de rosas, flores de Manacá da Serra.
Brincou, saiu, bebeu, tirou fotos com cara de viagem.
Respirou!
Conheceu gatos, chapeleiros, lebres e lagartas. Ganhou inúmeros abraços!
E riu, muito!
Ia ficar um fim de semana. Depois uma semana. Depois duas...
Nao queria ir embora. Viver ali era tão divertido! Se sentiu atriz, sendo uma personagem... mas, ambigüamente, há muito tempo não era tão ela mesma, em sua essência mais profunda.

Um mês depois, Alice acordou. Estava de volta... com ares renovados. E dessa vez a vida começou a acontecer.
"A vida parece que foi juntando coisinhas boas nesse tempo em que saí pra respirar..."
E, renovada, como se nunca tivesse apanhado, Alice deu a cara a tapa. E voltou a ser feliz, e não ter tempo pra nada... quase como o coelho branco... mas sorrindo! Recuperou o brilho nos olhos. E teve a sensação de liberdade de saber que poderia se tornar espectadora às vezes, para não matar o sorriso por asfixia.
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Obrigada Aninha!!
Obrigada Simone!!
Obrigada Campinas e todas as pessoas maravilhosas que conheci (ou re-conheci) aí!!
Obrigada por salvar meu sorriso, e aliviar minha respiração.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Angústia de quarta à noite

De repente me deu medo.
Invadiu-me a solidão.
Fez frio.

Pensei que você podia morrer
E eu podia ficar.
Pensei que se você morresse meu coração ficaria apertado
E não desapertaria nunca mais.

Nunca mais ver seu rosto congelaria meus ossos
E eu viveria de culpa.
Desculpa.
Diz... culpa...

A tal insegurança que eu tentei jogar fora
Apoderou-se de mim
E derreteu meus ideais em lágrimas profundas.

Estou com a alma inundada.
Os pensamentos afogados.
Só as mágoas sabem nadar
E respiram submersas nessa mar amargo.

De repente senti medo de perder.
De olhar e não ver nada.
De ficar a ver navios.
Tive um arrepio profundo.
E corri
E corri
E corri
E cheguei ofegante ao fundo do corredor
E me aninhei no canto mais escuro
sem respirar.
Tudo se foi
Está?
Se vai.
Tudo se vai.
Meus olhos se vão como água
Escorrem por todo o meu rosto
E o gosto que fica na boca
É de sal.

sábado, 16 de agosto de 2008

Sobre liberdade e borboletas

Eu sempre fui medrosa pra muita coisa. Corajosa pra algumas outras, claro.
Mas sempre tive medo, por exemplo, de brinquedos radicais de parque de diversão.
Montanha russa, o tal do elevador que cai... é entrar em um pra virar criança e começar : “Ai meu deus! Não quero mais brincaaaaaaarrr!” e sair quase chorando, com cara de “não teve graça”. Por isso, quando o Rafa, meu amigo, me chamou pra pular de para-quedas, neguei na hora. A imagem que me vinha à cabeça era um ataque cardíaco em plena queda livre.
Ele insistiu... e eis que eu disse: “Ah , acho que asa delta eu até encaro, pelo menos vc não cai, você voa!” Passou-se um ano... o assunto já adormecido, quase esquecido, de repente ressurge numa conversa de MSN.
E tomou corpo e marcou data!
Liguei pro pessoal do vôo livre sempre com borboletas no estomago e gelo na barriga!
Comecei a contar pras pessoas sempre com uma estranha euforia (ou medo?) pra ver se eu me apropriava da idéia.
Na verdade, sempre tive vontade, mas cadê a coragem?
O Leandro, outro amigão, resolveu ir também
Mais um incentivo. Agora tava ficando mais difícil amarelar.
O Rafa chegou de viagem na sexta.
O Leandro veio aqui pra casa sábado de manhã.
E fomos lá encarar a fera, ou... a altura. Olhei de baixo, vi a Pedra Bonita lá em cima e minha mão começou a suar... Muito medo... medo, medo... enquanto isso estamos lá assinando termos de responsabilidade (MEDOOO!). Entramos no carro do instrutor e la vamos nós subir!
Cheguei lá... achei tudo lindo, vista linda... muitas pessoas felizes, varias Asas coloridas... clima de felicidade e ultra coragem.
Coloca equipamento, tira foto... treina a corrida, tira foto, fica olhando as pessoas voarem tira foto...
Pra acalmar eu pensava: “Lívia, imagina que você está quase entrando no palco, e ta com medo de esquecer tudo o que ensaiou, mas ai você entra e faz!"
Tira mais fotos sorridentes pra esquecer do resto!
E entaum... la vamos nós pra beira da rampa...
Borboletas de todas as cores. Gelo polar. Senti meu coração na boca... ele quase pulou, mas....
... Eu corri antes, até o vazio e fiquei suspensa no ar - gritando igual uma maluca.
Doses cavalares de adrenalina.
E lá estava eu voando!
Vendo essa cidade linda e sentindo como nunca antes a sensação de liberdade, de coragem, de vida correndo nas veias!
Voando sobre as árvores, sobre a praia, sobre o mar...
Voando sobre meus medos, sobre minhas neuras, sobre minha vida!
Desci com um sorriso gigantesco e com a sensação de ser a pessoa mais forte do mundo!
Aumentei a quantidade de coisas que eu quero fazer, que eu sei fazer, que eu posso fazer!
Porque o medo é normal, mas posso usá-lo ao meu favor!
Liberdade alimenta a alma. Recomendo.




- Obrigada ao Ricardo, piloto, que foi maravilhoso comigo!
- Obrigada Leandro, por embarcar nessa com a gente!
- Obrigadíssima Rafa, esse foi um dos melhores presentes que já ganhei!

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Último suspiro

A vida está cheia de provérbios para as situações difíceis. “Não existe crescimento sem dor”. “Há males que vem para o bem”. Vários clichês que hoje em dia são heroicamente mascarados em livros de auto-ajuda. Alice abomina esses livros, mas se rende à cultura popular... Por que por mais que se tente modernizar... Parece que o homem é o homem no mundo que é o mundo desde sempre. E tudo quer dizer a mesma coisa. Vários caminhos para se chegar a uma só conclusão.

Nos últimos dias algo que estava agarrado no peito de Alice deu seu último suspiro. Já estava se extinguindo, cada vez mais fraco, mas com algumas brasas ainda ardendo... Bom, finalmente elas se apagaram.

21 gramas a menos e Alice permanece inteira.
“O que não mata fortalece”. E Alice está mais forte.
Em sua bipolaridade artística pode-se dizer que está na fase + da pilha.

Obviamente ela vive, a vida não parou nesse tempo... A tragédia não precisa ser grega.
Mas havia a tal luta contra seus fantasmas interiores.
Não sei se eles se foram ou só se esconderam, só sei que por agora deixaram-na em paz.

Sim, ainda está confuso, sempre estará – de certa forma. Mas essa é a conclusão de um processo embaçado, então melhor não esperar mais que isso.

Alice olhou a redor e percebeu que tem pessoas maravilhosas ao seu lado. “Pau pra toda obra”. E que isso não tem preço.
Percebeu que “a felicidade não é uma permanência e sim um estado”, e que só cabe a ela prolongar seu tempo de duração.
Alice viu que a vida passa e ficou brava de ficar só olhando. Tão brava que a cabeça dela esquentou, as cores descongelaram... ela voltou a pensar macio. Pensa algodão, cetim, seda...

Porque Alice que se preze... triste... não dá.