quarta-feira, 27 de maio de 2009



"Pouco a pouco o ruído foi diminuíndo, até voltar tudo ao silêncio anterior, e então Alice ergueu a cabeça, assustada. Não viu ninguém, e sua primeira idéia foi que teria sonhado com o Leão e o Unicórnio, e com aqueles esquisitos Mensageiros anglo-saxões. Contudo, lá estava, a seus pés, o grande prato, em que tentara cortar o bolo de passas!
- Então eu não sonhei, a menos que tudo isso faça parte do meu sonho. Só espero é que este seja meu sonho, e não o do Rei Vermelho! Não me agrada fazer parte do sonho de quem quer que seja... Estou com vontade de ir acordá-lo pra ver o que acontece!
Nisto seus pensamentos foram interrompidos por um brado:
- Olá! Olá! Xeque!
E um cavaleiro, vestido de armadura vermelha, veio a galope para seu lado, brandindo uma grande vara. Parou repentinamente o cavalo ao alcançá-la, gritando:
- Você é minha prisioneira!
E caiu do cavalo abaixo no momento em que gritava. Alice assustou-se, mais por ele que por si mesma, apesar do seu grande medo; e não foi sem algum temor que o encarou, até vê-lo tornar a montar. Mal se viu bem acomodado na sela recomeçou ele:
- Você é minha pri...
Mas outra voz interrompeu-o:
- Olá! Olá! Xeque!
Ela olhou em volta, com alguma surpresa, para ver quem era o novo inimigo. Dessa vez era um Cavaleiro Branco. Chegando junto dela, caiu do cavelo, como o Caveleiro Vermelho; depois tornou a montar, e então ambos os Cavaleiros ficaram a se encarar mutuamente, sem nada dizer.
Alice, meio desorientada, encarava também ora um, ora outro...
- Ela é MINHA prisioneira, fique sabendo - disse por fim o Cavaleiro Vermelho.
- Sim, mas depois EU vim libertá-la - replicou o Cavaleiro Branco.
- Nesse caso temos que combater por ela - disse o Cavaleiro Vermelho, pegando o elmo e pondo-o na cabeça.
O elmo, que ele trazia preso ao arção da sela, era uma coisa semelhante a uma cabeça de cavalo.
- Você respeitará as Regras de Combate, naturalmente - observou o Cavaleiro Branco, pondo também o seu elmo.
- Nunca deixo de fazê-lo!
E começaram a dar um no outro, com tal fúria, que Alice foi se abrigar por detrás de uma árvore, para escapar às pancadas.
E lá do seu esconderijo, espiando o combate, pensava consigo:
- Bem quisera eu saber quais serão as Regras de Combate... Uma delas parece que é... quando um Cavaleiro acerta no outro, derruba-o do cavalo; e se lhe falha o golpe, ele mesmo é quem cai... Outra parece ser que eles agarram nos paus com os braços cruzados, como se fossem dois polichinelos... E que barulho fazem ao cair! Parece que é o jogo inteiro de atiçadores caindo no guarda-fogo! E os cavalos, como são mansos! Deixam os Cavaleiros levá-los para diante e para trás, como se... fossem mesas!
Escapara a Alice outra Regra de Combate - e é que eles sempre caíam de cabeça.
Acabou o combate quando ambos caíram, lado a lado, no caminho. Então ergueram-se , apertaram-se as mãos, e o Cavaleiro Vermelho tornou a montar, e partiu a galope.
- Foi uma vitória gloriosa, não foi? - disse o Cavaleiro Branco, ao erguer-se ofegante.
- Não sei - disse Alice, indecisa - Eu não quero ser prisioneira de ninguém. Eu quero ser uma Rainha."

Um comentário:

Gabriel Maia disse...

Vive la Reine!