quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Somente... Alice.

Alice teve tantas resoluções que se confundiu toda e entregou os pontos: "Eu nunca consigo fazer nada do que me proponho.". Todos os dias sua cabeça parecia funcionar como um livro de auto-ajuda, com frases prontas e uma motivação forçada. Ao mesmo tempo as coisas não estavam ruins. Ela estava bem. Feliz. As coisas dando certo no trabalho e com uma boa possibilidade de crescimento. A vida amorosa bem divertida... Mas, se Alice consegue afastar (ao menos temporariamente todos aqueles fantasmas, tem um que ainda é mais resistente.
É o fantasma da culpa.

Nada pode estar tão bem assim, certo? Porque afinal, o que ela fizera para merecer isso?
Sempre teve tudo que precisou na vida. Nunca faltou comida, família, carinho, amigos, amores... Houveram sim, os momentos dificeis, de rejeição, de fracasso, mas nada tão grave se comparado a muitos problemas enfrentados por aí.
É claro que a proporção dos problemas é de acordo com a realidade de cada um. Mas ...

Alice sempre teve uma fraqueza emocional relacionada à culpa. Ela nunca se sentiu forte, batalhadora... Mas sempre foi. Lutou contra dogmas e idéias pré-concebidas. Tomou decisões difíceis, correu atrás de seu sonho, foi filha, irmã, amiga, namorada. Teve muitas alegrias mas enfrentou várias decepções e foi muito forte quando realmente precisou. E mesmo assim sua cabeça continuava afirmando que ela era fraca. Todo ano ela fazia promessas e mais promessas incumpríveis. Sábias vozinhas ao seu redor diziam "Você não vai mudar fazendo sempre a mesma coisa." Tá certo. Mas afinal, o que ela tinha que fazer? Ja havia passado por terapias diferentes, cursos diferentes, cidades diferentes, namorados diferentes.
Ou ela era um problema sem solução ou ela estava encarando as coisas da forma errada.

É claro que seus atos sempre teriam consequencias: se comer demais e não fizer exercício, vai engordar. Se não arrumar a casa, ela vai ficar bagunçada.... Mas o mais importante é que tudo que ela fizesse fosse feito por ela e não para satisfazer uma expectativa alheia que ela colocou.

Será que a principal mudança que precisava ser operada não era a a de aceitar quem ela realmente era? E nao de tentar satisfazer uma imagem que ela achava que os outros tinham dela???

Percebeu que ter pontos fracos não equivalia necessariamente a ser fraca. E que esse modelo de perfeição que ela buscava era inatingivel e por isso mesmo sempre frustrante.
Descobriu que a cabeça dela não lutava contra ela, como ela sempre achou, mas estava sim, tentando lembrá-la de que não daria conta de acompanhá-la nesse novo eu que ela estava tentando criar. Não era ela, mas um personagem.

Então Alice deixou de fazer resoluções e partiu para a ação.

Resolveu assumir seus defeitos. Dos quais tanto se envergonhava. Aqueles que atrapalhavam seu ideal de perfeição. Suas crises de preguiça, sua teimosia excessiva, sua autocrítica, seu veneno, sua mania de ser dona da verdade, sua barriga, sua celulite, sua flexibilidade terrivel... entre muitos.
Poderia melhorar neles. Estabeleceu uma rotina necessária à vida que escolheu, mas sem cobranças demais. Sempre fazendo o seu melhor possivel.

Mas mais do que nunca Alice resolveu assumir suas qualidades. Seu talento, sa voz, sua inteligencia, sua capacidade de fazer bem feito, sua lealdade, sua intensidade, sua alegria, sua beleza... entre muitas. Tudo de bom que morava nela.
Seus pontos fortes. E se divertir com eles.

Muitas coisas aconteceram para que Alice chegasse nesse ponto, coisas boas e ruins. É a vida. E ela descobriu que era isso que fazia ela ser quem era. Talvez seja aí que aconteceu a grande mudança. Porque Alice enfim percebeu que não era um personagem. Que tentando agradar todo mundo ela estava desagradando quem devia ser mais importante naquela história toda: Ela mesma.

E assim, sem mais promessas, pela primeira noite em decadas - apesar de sempre achar que isso acontecia - Alice dormiu tranquila. Sem culpa. Tendo o chão aos seus pés e o futuro à sua frente. E se sentiu como qualquer ser ser humano. Sem personagem. Somente... Alice.

6 comentários:

Kêco disse...

Olá !
Estava de passagem e vi que vc tbm é ligada em artes. Tem algum link pra te ouvir cantando?
T+

Priscila Freitas disse...

Super me identifiquei.... de verdade!!! =)

tem post novo! bjsssss

Solitaire disse...

Lindo, lindo, Lih. Adorei. E você falou algo que acredito ser a chave para conseguir a felicidade: Aceitar-se, não se matar para sustentar a imagem que os outros têm de nós. Ou que achamos que têm.
As terapias pelas quais Alice passou realmente a mudaram. E mais importante que isso, ela percebeu essas mudanças.
Muito bom isso.
Bjos.

PS.: às 5h da matina tudo se torna mais claro... também sou adepta das madrugadas.

Unknown disse...

Muito bom te ver, conversar e mais ainda ver que você conseguiu.
Obrigada por tudo.
Te amo. (L)

Solitaire disse...

Por onde andarás Alice... Talvez em uma das encruzilhadas no País das Maravilhas?
Anda sumida... Bjs
Solitaire

Tatah Marley's Confissões disse...

Auto aceitação.. nada melhor e mais preciso para se alcançar a felicidade!
:)